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Representação da revolta |
Joaquim Pinto Madeira, natural da Fazenda Silvério, em Barbalha, destaca-se como uma figura central na história do Cariri e do Brasil no turbulento período regencial. Formado sob a influência de líderes como José Pereira Filgueiras, Pinto Madeira esteve envolvido em eventos decisivos, como a Revolução Republicana de 1817 e a Confederação do Equador em 1824. Contudo, foi entre 1831 e 1834, durante a revolta que levou seu nome, que ele consolidou seu lugar na história.
O contexto da abdicação de D. Pedro I em 1831 mergulhou o Brasil em uma fase de instabilidade política e social. No Ceará, rivalidades locais entre as vilas do Crato e do Jardim exacerbaram as tensões. Pinto Madeira, alinhado à causa restauradora, buscava a reinstalação de D. Pedro I ao trono e se opunha à regência, que representava a elite liberal e centralizadora.
A revolta teve como base um exército composto por "cabras", homens marginalizados e racializados, que formavam a maioria de sua tropa. Esses trabalhadores, pobres e geralmente excluídos da cidadania plena, foram mobilizados por promessas de proteção e justiça. O padre Antônio Manuel de Sousa, figura de destaque no movimento, atuou como articulador político e religioso, conferindo legitimidade moral à causa.
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Representação de um Cabra. |
A insurreição começou com a tomada da vila do Crato em dezembro de 1831, simbolizando um ataque direto às elites locais que apoiavam a regência. Pinto Madeira, em proclamações inflamadas, convocava a população a defender o trono e a religião, enfatizando um discurso de restauração da honra nacional. Apesar de algumas vitórias iniciais, as forças legalistas, apoiadas por tropas de outras províncias, reagiram com dureza, resultando na captura de Pinto Madeira e de seus principais aliados em 1834.
Após ser levado ao Recife, Pinto Madeira enfrentou um julgamento controverso, conduzido por inimigos declarados. Ele foi condenado à morte e, em um último ato de resistência, solicitou que sua pena fosse alterada para o fuzilamento, considerado mais digno para um militar. A execução ocorreu no Crato, em novembro de 1834, marcando o fim de uma rebelião que revelou as profundas divisões políticas e sociais do período.
A Revolta de Pinto Madeira transcende sua derrota militar. Ela ilustra a complexidade da formação do Estado nacional brasileiro, em um contexto de disputas locais, lutas de classe e resistência popular. O movimento continua sendo objeto de debates historiográficos, destacando tanto a violência da repressão imperial quanto o papel dos "cabras" como agentes históricos frequentemente marginalizados nas narrativas tradicionais.
Esse episódio permanece como um símbolo de resistência, lembrando que a construção da história brasileira é marcada pela pluralidade de vozes e por lutas que ecoam até os dias de hoje.
Referências
BRITO, Sócrates Quintino da Fonsêca e. A Rebelião de Joaquim Pinto Madeira: Fatores Políticos e Sociais. Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado em História da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 1979.
IRFFI, Ana Sara Ribeiro Parente Cortez.
O cabra do Cariri cearense: a invenção de um conceito oitocentista. Tese (doutorado) – Universidade Federal do Ceará, Centro de Humanidades, Departamento de
História, Programa de Pós-Graduação em História Social, Fortaleza, 2015.
IRFFI, Ana Sara Cortez. Pinto Madeira e seu ‘exército de cabras’: conflitos políticos e sociais no Cariri cearense pós-independência. CLIO: Revista de Pesquisa Histórica - CLIO (Recife), ISSN: 2525-5649, n. 35, p. 200-224, Jan-Jun, 2017.
TELES, Danielly de Jesus.A revolta de Pinto Madeira no Ceará: considerações sobre a formação do Estado. Mosaico – Volume 10 – Nº 17 – Ano 2019.
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