Pequena História das Nações Kariris Presente no Atual Território Cearense



Dança-Tapuia-Albert-Eckhout-1641

  Atualmente nos deparamos com vários estabelecimentos comerciais ou não, que utilizam da palavra “Cariri”, a qual também está presente no nome da região que compreende alguns municípios do interior do Estado do Ceará. Todavia, a maior parte da população desconhece o significado da palavra, que no passado representava as nações indígenas Kariri. Ainda falando dessa nomenclatura, “Kariri/Cariri/Kiriri” recebeu os significados mais pejorativos pelo colonizador lusitano, como tristonho ou calado. Agora imagine a empolgação dos nativos chamados de tapuias em conversar e ficar contente com o colonizador que queria civiliza-los, utilizando o recurso da violência para imprimi-los a cultura europeia a todo custo.
A língua cariri fazia parte do tronco linguístico Arawak (comedor de farinha), onde estima-se que pelo menos 74 tribos indígenas no Brasil tinham seu idioma oriundo da raiz linguística do Arawak.
Sertão Tapuia em um mapa de 1602 feito por Hulsius, Levinus.


A historiografia aponta que a palavra “Cariri” tem o mesmo significado de Tapuia. Os Tupis designavam de tapuias todas as outras nações que não comungavam de sua cultura e por conseguinte eram suas inimigas. Os portugueses, também usaram esse  termo “tapuia” para denominar todas as nações indígenas que se localizavam nos sertões (inclusive a Região do Cariri), que eram os chamados bárbaros, que não aceitavam  o domínio português.
Os índios kariris que existiam no território hoje pertencente ao Estado do Ceará habitavam principalmente a área correspondente ao sul do Estado. Os nativos cariris foram um dos pioneiros a fazerem emigração das correntes dos rios Amazonas, Orenoco, Araguaia, Tocantins até se fixarem as margens do rio São Francisco. Os índios Kariris que viveram ao longo do São Francisco até aqui no Ceará faziam parte dos Dezabucuas.
Sobre a pré-história dos Kariri vários estudos arqueológicos mostram que sua origem está nas ramificações do Rio São Francisco. Os índios Kariri eram caçadores e coletores, e usaram o grande rio para dispersão em busca de alimentos nas áreas ribeiras.
Os índios kariris eram de estatura baixa e tinham as cabeças chatas, e se alimentavam de tudo o quanto era animal, desde sapos, cobras e lagartixas até mesmo piolhos. Utilizavam cabaças, cúias, pilão de socar, palhas de palmeira e cerâmica em seu dia a dia. Tinham uma cultura de mandioca, milho, algodão e fumo. A natureza fornecia aos índios kariris uma abundância de macaúba, babaçu, piqui entre outras frutas.
O Cariri era uma espécie de paraíso terreal, pois além dessa vastidão de riqueza na fauna e flora, ainda apresentava dezenas e dezenas de córregos, riachos e extensos brejos. Arqueólogos apontam que no vale do Cariri ao menos duas nações habitaram a área: Os Tupi-Guarani (Tabajaras) e os Kariri.
Diferenças entre os Tupi-Guarani e os Tapuias:
A caça, a coleta, mas, sobretudo, o fato de não terem habitações “fixas” e roças, assinalavam uma característica bem distinta para os que tinham esses elementos, especialmente as sociedades litorâneas. Essas, além de caçar, pescar e coletar, cultivavam suas roças, em especial a mandioca. Também habitavam em suas localidades por muito mais tempo e dormiam em redes. Dessa forma, aos olhos dos colonos, os Tupinambá ostentavam um repertório de sobrevivência muito mais sofisticado do que os dos chamados Tapuias. (OLIVEIRA, 2017, p. 41)
Os Kariris não eram uma única nação, mas várias que as vezes eram rivais, como no episódio de alianças entre holandeses com os Kariris que estavam na capitania de Pernambuco que confrontaram os Kariris da Capitania da Bahia que tinham apoio dos portugueses.
Durante a colonização portuguesa na América em meados do século XVI, o litoral que hoje faz parte do território brasileiro era ocupado por várias nações do tronco linguístico Tupi-Guarani, em contrapartida nos sertões tínhamos por exemplo a cultura Macro-Jê.
Os sertões, ou terra dos tapuias, eram territórios dos nativos tidos como selvagens/bárbaros povos que compuseram ao tronco linguístico Macro-Jê, dentre eles os Kariri/Kiriri. Os Jês foram expulsos das regiões litorâneas pelos tupis-guaranis e dominaram então os sertões. Tínhamos aqui o sertão como lugar de fuga.
Os nativos chamados de tapuias ainda viviam durante período da colonização lusa com a mesma cultura pré-histórica de nomadismo e práticas como pescas, caças e coletas, isso segundo alguns escritos portugueses, pois em outras fontes mostra-se o contrário, uma civilização avançada em relação as outras nações indígenas.
Por meio dos achados arqueológicos (objetos de pedras, de ossos e peças de cerâmica) a cultura dos kariris mostrava-se um pouco a frente dos outros povos indígenas do nordeste brasileiro. De acordo com Daniel Brington (Apud. POMPEU SOBRINHO, p. 319) em sua obra “The American Race”, mostra que os índios Kariris eram uma das tribos mais instruídas, pois praticavam agricultura, eram hábeis tecendo o algodão e tinham um fuso (poponghi) e um tear (wonkuró). Com isso demonstra que aquela ideia de índio bárbaro ou figura do atraso cai por terra com essas referências do Brington, mas é compreensível por parte dos colonos portugueses desmerecerem os povos que queriam civilizar.
A maioria das referências historiográficas sobre os índios kariris vem do século XVIII e XIX. Os índios Kariris, como as demais tribos brasileiras não entendiam a propriedade privada e a criação de gado do homem branco, daí gerou-se conflitos entre os índios e os civilizadores portugueses. A seguir alguns trechos que falam sobre os conflitos entre os Kariris e os povoadores europeus:
“Foram os kariris, entre os silvícolas (selvagens) do Brasil, os que, talvez mais valentemente se opuseram aos invasores brancos. Para domá-los foi preciso que viessem de muitas partes, do norte e do sul, homens que usaram de violência, astúcia e a traição” (PINHEIRO, 2010, p. 15).
“Terrível a resistência dos kariris, diz Capistrano de Abreu em – Caminhos Antigos e Povoamento do Brasil – talvez a mais persistente que os povoadores encontraram em todo país” (FIGUEREDO FILHO, 1966, p. 09).
“(...) até bandeirantes paulistas tiveram de romper longos e ínvios caminhos afim de destruir os mais bravos indígenas do brasil” (FIGUEREDO FILHO, 1966, p. 09).
No ano de 2018 foi divulgada um estudo realizado pela da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e da Universidade da Virgínia, nos Estados Unidos que revelou que os nordestinos têm em sua genética 56,8% do DNA mais europeu (Principalmente Português e Holandês) em relação ao indígena que por sua vez mostrou-se com ascendência de povos asiáticos. Segundo Alexandre Havt,  professor de Medicina da UFC e integrante do estudo, esse dado sobre os ameríndios foi "a maior surpresa", pois são "Poucas pesquisas investigam a origem dos nossos índios, e essa verificou que os genes indígenas dos nordestinos têm origem do povo Bangladesh, na Ásia”, disse Havt.
Fonte: Diário do Nordeste


Essa informação traz outro dado implícito sobre os povos indígenas, sobre o extermínio massivo dos povos nativos principalmente os tapuias. Em uma área que tinha predominância dos povos autóctone fora substituída pelos povos de outros continentes.

Bibliografia

FIGUEREDO FILHO, J. de. História do Cariri. Vol.3. Coleção estudos e Pesquisas. Crato: Faculdade de Filosofia do Crato – Veritas,1966.
OLIVEIRA, Antonio José de. OS KARIRI-RESISTÊNCIAS À OCUPAÇÃO DOS SERTÕES DOS CARIRIS NOVOS NO SÉCULO XVIII. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal do Ceará – UFC. Fortaleza - CE, p.310. 2017.
PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
POMPEU SOBRINHO, Th. As origens dos Índios Carirís. Revista do Instituto do Ceará tomo LXIV.Fortaleza: Editora Instituto do Ceará, p. 314-347. 1950.







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Um comentário:

  1. Olá... Meu nome é Igor Moura. Estou concluindo minha pós-graduação em História do Brasil e meu trabalho de conclusão de curso será sobre a chegada dos primeiros hominídeos na região do Cariri. Se vocês pudessem me auxiliar com mais materiais a respeito do tema, lhes agradeceria muito!!!!! Desde já muito obrigado e parabéns pelo trabalho, uma área tão rica em histórias mas pouquíssimo desenvolvida pela historiografia. Meu e-mail para contato é igsilva1985@hotmail.com

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