José Maria de Medeiros – Iracema, 1884 óleo s/tela – 167,5 x 250,2 cm Rio de Janeiro, Museu Nacional de Belas Artes |
O livro de José
de Alencar, “Iracema” é uma boa opção para o professor de Estudos Regionais
trabalhar as nações tupis que viveram no território que hoje conhecemos como
Ceará. Apesar da obra ser ficcional, ela apresenta elementos reais e uma
história possível do que ocorreu durante a colonização lusitana. Personagens
históricos como Martim Soares Moreno (um dos primeiros colonizadores do
território cearense e considerado fundador do Ceará) e Antônio Felipe Camarão
(índio civilizado dos Pitiguaras que ajudou os portugueses na colonização).
Em 1829, nasceu em Mecejana o escritor José Martiniano
de Alencar, sete anos depois do rompimento entre a Metrópole (Portugal) e a
Colônia portuguesa na América em 7 de setembro de 1822. Essa nova nação buscava
também novos valores culturais que se desprendesse da influência portuguesa
para se desenvolver uma identidade nacional. E ao longo do século XIX, por meio
das artes (Pintura, Escultura, Literatura etc.) essa identidade nacional foi
forjando-se. O livro de Iracema foi um dos pioneiros nessa construção de uma
literatura autêntica que buscava através do bom indígena fincar raízes que
germinasse o “primeiro brasileiro”.
O nacionalismo presente nesta obra de José de Alencar
fica evidenciado através da criação da protagonista do enredo que leva o nome
do livro “Iracema, a virgem dos lábios de mel”, a qual representa o bom
indígena (“índio bom é o índio civilizado”) e como considera o autor, esse
livro é a “ Lenda do Ceará”, e também o surgimento do primeiro cearense.
Essa obra que é escrita em terceira pessoa, tem um
narrador-observador e o seu tempo cronológico/histórico se situa na primeira
década do século XVII Portugal ainda estava sob o domínio espanhol (União
Ibérica), e é o período da segunda
invasão francesa na colônia portuguesa. Esses franceses se aliaram com os tabajaras
e os portugueses tiveram a colaboração dos pitiguara, e essas alianças entre
europeus com tribos inimigas incrementa o enredo da história desse livro.
A trama conta a história de amor entre a indígena
Iracema e o colonizador português Martim. Araquém, pajé dos tabajaras é o pai
de Iracema, essa por sua vez é simplesmente a sacerdotisa da tribo e portadora
do segredo da jurema (o segredo da fertilidade dos tabajaras). O português
Martim tem aliança com a tribo rival dos tabajaras: os pitiguaras. Quando se
consuma o amor dos dois, Iracema foge com o Martim que com a ajuda de seu amigo
Poti (Antônio Felipe Camarão) leva a moça até a aldeia dos pitiguaras. Pouco
tempo depois, nasce o fruto dessa relação entre a indígena e o estrangeiro, seu
nome é Moacir, o filho da dor, ele é símbolo da miscigenação entre índios e
brancos. Outro ponto de destaque do livro é a presença de muitas palavras da
língua Tupi que até hoje faz parte em algumas localidades no estado cearense.
Temas que podem ser trabalhados com esse livro: guerras entre tribos indígenas
inimigas por disputas territoriais; relação entre o nativo e o colonizador; diferenças
entre os costumes indígenas e dos europeus; usabilidade da força nativa para
efetivação da colônia; alianças entre nativos e estrangeiros para combater seus
inimigos em comum; a língua Tupi; tribos que estavam presentes no território
cearense e foram aniquiladas pelo processo civilizatório luso; o mito do bom
indígena; entre outros.
O índio como símbolo do nativismo foi bastante
revisitado durante o século XVIII e início do século XIX, almejando sempre
objetivar o entendimento da figura do índio como o “bom selvagem”, ou parafraseando
Rousseau, o nativo tem como natureza ser puro, pois não foi corrompido pela
maldade da sociedade do velho mundo.
Uma atividade que pode ser desenvolvida com os
discentes sobre o livro, é a elaboração de “Fichas de Leitura” que proporcionam
uma abordagem mais imersiva na obra. Outra atividade seria trabalhar a língua
tupi presente no texto, despertando o interesse do alunado a buscar essas
palavras nas localidades que formam o Ceará, ou que estão presentes no dialeto
cearense até hoje em dia. O professor pode trabalhar a interdisciplinaridade
com as disciplinas de História, Língua Portuguesa e Artes, a partir dos pontos
referidos anteriormente.
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