Pequena biografia do Padre Cícero




As cinco horas do dia 24 de março de 1844, na cidade do Crato, nascia em uma casa localizada na Rua Grande, n° 157, Cícero Romão Batista (conhecido mais tarde como Padre Cícero ou Padim Ciço). A data do natalício de Cícero é bem controversa, pois ele e seus familiares comemoravam sempre a data no dia 24 de março, porém seu batistério ou documento de batismo, proferido pela Igreja católica que por muito tempo era o único documento de nascença, registrou que Cícero nascera um dia antes no dia 23 de março.
Batistério do Padre Cícero - Livro de Batizados da Paróquia de Nossa Senhora da Penha, Crato, 1843 a 1845, fl. 61

Todavia, o batismo do garoto ocorrera somente no dia oito de abril do mesmo ano, logo é muito provável que o pároco Manuel Joaquim Aires do Nascimento tenha cometido um equívoco, que os pais da criança ignoraram.
A mãe e o Pai de Padre Cícero

Cícero era filho de Joaquim Romão Batista Meraíba e de Joaquina Ferreira Castão (mais tarde mudaria de nome para Joaquina Vicência Romana, em homenagem a sua mãe e um nome Romana derivação de Romão sobrenome de seu marido).  Tinha como avós paternos Romão José Batista e Angélica Romana Batista, ambos de Milagres, e José Ferreira Castão, de Cachoeira-BA, e de Vicência Gomes Castão, de Crato, como seus avós maternos.
Foi alfabetizado em Crato aos sete anos de idade pelo professor Rufino de Alcântara Montezuma. Com 12 anos, começou a estudar latim com o Padre João Marrocos Teles que observando o progresso nos estudos do filho, o pai de Cícero matriculou-o no colégio do Padre Inácio de Sousa Rolim em Cajazeiras-PB, com essa mesma idade fez já o seu voto de castidade inspirado em São Francisco de Sales (patrono da Congregação Salesiana, para a qual em seu testamento deixara a maior parte de seus bens).


Em 1862, o jovem Cícero teve que interromper os estudos para cuidar de sua mãe e as irmãs que acabaram de perder o pai para a doença que assolava o Cariri: cólera-morbo. Com o apoio do Coronel Antônio Luís Alves Pequeno, que foi seu padrinho de Crisma, Cícero ingressou no Seminário de Fortaleza no dia 7 de março de 1865, e cinco anos depois é ordenado padre pelo Dom Luís Antônio dos Santos.

No altar de Nossa Senhora da Penha, em sua terra natal, Padre Cícero celebra sua primeira missa no ano de 1871, com a presença do padre que o tinha batizado, vigário Manuel Joaquim Aires do Nascimento, e a cerimônia teve como padrinhos os coronéis Antônio Luís Alves Pequeno e Joaquim Secundo Chaves e Melo. No ano seguinte, vai morar definitivamente no povoado de Juazeiro.

Nesse pequeno povoado Padre Cícero dedica-se em curar as almas, por meio de orações seja de dia ou a noite, recebia fiéis de toda região que ali passava. Empregava nesse povoado a filosofia de oração e trabalho, e aos poucos ia moldando o caráter dessa gente lançada a sorte, conquistando o respeito para além do espiritual. Sem vaidade aparente, Padre Cícero vestia sempre uma mesma batina velha, que só substituía quando já não dava mais para usá-la. Sua dedicação na missão de salvar as almas dos sertanejos fazia com que não se preocupasse muito com ele próprio, que “alimentava-se mal e em horas irregulares” (PINHEIRO, 2011, p. 149). O autor, Irineu Pinheiro, traz um fato interessante sobre esse desgaste do trabalho excessivo do Padre Cícero, que

Nem sempre a sua resistência física suportava o excesso de trabalho. Daí o hábito de dormir a cavalo, sobre a sela, em suas frequentes excursões através das cidades do Cariri. Narrou-me certa, ocasião D. Quintino, bispo do Crato, o seguinte episódio: Em 1890, viajavam uma noite de Missão Velha para o Juazeiro ele, D. Quintino, que fora, ou era ainda coadjutor do vigário daquela paróquia, o padre Cícero e um outro sacerdote, cujo nome não me recorda. Conversavam apreensivos sobre prováveis perseguições da República recém-proclamada contra a Igreja e os seus ministros. Esmoreceu depois a conversa até extinguir-se de todo e no escuro da noite só se ouvia o som das patas dos cavalos no chão duro da estrada. De repente, gritos do padre Cícero. Encontram-no dentro de uma moita de unha de gato, planta muito comum em todo o sul do Estado. Era que ele adormecera e o cavalo o desviara do caminho e o enlearam entre os galhos do arbusto insidioso, de espinhos recurvos quais garras de felino. Diz-lhe, então, o saudoso bispo do Crato com a calma e o humour que lhe eram habituais: "Nada tema, padre Cícero. Ainda não são os nossos perseguidores que o agarraram" (PINHEIRO, 2011, p. 149-150).

Sua missão sacerdotal estava indo tudo bem até os eventos que mudariam de vez sua história e do pequeno povoado. Dezoito dias antes de celebrar seu aniversário de 45 anos, estava o padre Cícero celebrando uma missa no período quaresmal no povoado o qual residia, quando no momento da eucaristia uma das beatas, a Maria de Araújo, vivenciou uma experiência sobrenatural, em que a hóstia se transformara em sangue rubro/vivo. O milagre da hóstia aconteceu durante anos e atraiu milhares de peregrinos que foram persuadidos por essa manifestação que eles consideravam uma ação direta de Jesus Cristo.


Afastado pela cúpula diocesana de exercer suas atribuições sacerdotais, entra na vida política do povoado. Em 1911 o povoado de Juazeiro ficou emancipado da cidade de Crato, e o primeiro prefeito foi justamente padre Cícero. Outro episódio relevante na história do padre Cícero foi a revolta contra o governo do Coronel Franco Rabelo, a chamada Sedição de Juazeiro que lhe rendeu ao término o cargo de vice-presidente (vice-governador) do Estado do Ceará.



Com 90 anos de idade, no dia 20 de julho de 1934, às 5h da manhã o Padre Cícero falecia em sua casa. Seu enterro contou com a presença de aproximadamente 70 mil pessoas. Mesmo com a perseguição da Igreja católica, deixou a maior parte de sua herança para ordem salesiana. Somente 81 anos após sua morte, o Vaticano perdoou o padre Cícero, porém o pedido de beatificação e santificação ainda está muito distante de se concretizar. Entretanto, Cícero Romão Batista, já está canonizado pelos devotos que fazem peregrinação todos os anos ao seu túmulo na capela do Perpétuo Socorro em Juazeiro do Norte.





Referências

OLIVEIRA, Amália Xavier de. O Padre Cícero que eu conheci: a verdadeira história de Juazeiro do Norte. 3. ed. Recife: FJN. Ed. Massangana, 1981.
PINHEIRO, Irineu. Efemérides do Cariri. Fortaleza: Edições UFC, 2010.
PINHEIRO, Irineu. O Joaseiro do Padre Cícero e a revolução de 1914. 2. ed. Fortaleza: editora IMEPH, 2011.


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