Ocupando cerca de 70% da superfície do planeta e encontrada em formas sólidas, líquidas e gasosas, a água é um recurso fundamental na manutenção da vida de todos os seres vivos. Contudo, a maior parcela dessas águas se encontram nos oceanos, ficando apenas 2,7% da disponibilidade de água doce. O Brasil, apresenta 12% da água doce superficial do planeta.
A história da humanidade está intrinsecamente ligada ao uso dos recursos naturais, entre estes, a água. Ela é indispensável para todos os seres viventes. Do homem pré-histórico ao homem contemporâneo, a água ainda está presente em nossa sobrevivência e nas mais variadas atividades humanas.
O curso de água natural, que é bastante mencionado ao buscarmos compreensão sobre os primórdios da civilização, sempre sobressai os rios. No entorno dos rios, os seres humanos construíram suas comunidades e desenvolveram as atividades pesqueira e agrícola. Desse ponto, outras atividades foram sendo criadas e paulatinamente fazendo surgir as primeiras cidades.
À medida que o ser humano foi evoluindo, os usos dos rios foi expandido para atender as necessidades exploratórias. Consumo, lazer, transporte, aproveitamento industrial, irrigação, pesca, criação de animais, geração de energia entre outras finalidades, tornam os rios significativos no que chamamos de progresso. Entretanto, a humanidade para chegar nesse progresso, em muitas situações poluiu ou destruiu os rios, para dar passagem a ganância e uma falsa resolução de problemas que foram surgindo temporalmente. Conheceremos agora o Rio Salgadinho, que exemplifica de fato o que foi dito anteriormente.
O Rio Salgadinho, localizado na cidade de Juazeiro do Norte no sul do Estado do Ceará, recebe água do Rio Salamanca, que é o principal curso d'água de Barbalha. Esse rio faz parte da Sub-Bacia do Rio Salgado, que compõe a Bacia do Rio Jaguaribe sendo uma das doze Bacias Hidrográficas do Ceará.
Atualmente o principal uso dos recursos hídricos de Juazeiro do Norte são supridos pelas perfurações de poços, servindo para abastecimento humano e industrial, irrigação e criação de animais. E o Rio Salgadinho?
As águas do Rio Salgadinho hoje em dia são impróprias para banho ou consumo, apresentando nocividade não só para humanos, mas também para a fauna e flora local. As matas ciliares que possuem diversas funções como barreira protetoras mantendo a qualidade da água, quase inexistem nas margens do Rio Salgadinho. Os peixes são afetados pelo esgoto bruto no rio, afetando o oxigênio do local.
O rio vem servindo de esgoto para as moradias próximas desprovidas de saneamento básico, onde despejam seus resíduos, mas também do setor fabril que se destaca a indústria de folheados. Apesar das empresas de folheados licenciadas do município possuírem Estação de Tratamento de Efluente (ETE), foram encontrados no Rio Salgadinho a presença de metais pesados, como, por exemplo, o níquel que é contaminante bastante prejudicial à saúde humana.
Antes de o Rio Salgadinho ser um escoadouro de esgotos e dejetos dos mais variados tipos, era um local cheio de vida. A população tomava banho, pescava e lavava suas roupas às margens do rio.
(Foto: Acervo Pessoal / Célia Morais) via Cariri Revista.
Segundo o historiador Lucien Febvre, os rios também têm histórias. Se pensarmos quantos agrupamentos humanos usufruíram das benesses do Rio Salgadinho e seu entorno, talvez apareça uma resposta.
Há uma diferença dos povos que utilizaram o rio ao longo da história. Os nativos Kariris conviveram harmoniosamente no vale do Cariri. Porém, com a chegada dos primeiros colonizadores europeus, a natureza não é mais para subsistência, mas sim um recurso a ser explorado visando o enriquecimento da metrópole.
Séculos se passaram, no entanto, a ideia de progresso sustentável ainda é bastante recente em nossa sociedade. Os recursos naturais, quando explorados em muitas ocasiões, não são deixados garantias de preservação do meio ambiente, como foi o caso do Rio Salgadinho.
Herdamos o rio em perfeito estado de nossos antepassados, mas, do jeito que caminha a negligência do poder público e o descaso da população, privamos as gerações futuras de conhecer o principal rio da cidade.
Em uma cidade conhecida como Meca do Cariri, onde o Padre Cícero Romão Batista teria feito o sincretismo daquele território com as narrativas bíblicas, onde o Rio Salgadinho era o Rio Jordão, a Colina do Horto era o Horto das Oliveiras e apresentando o Santo Sepulcro, esse potencial turístico juntamente ao desenvolvimento sustentável com a restauração do Rio Salgadinho poderia gerar um progresso jamais explorado.
A recuperação do Rio Salgadinho e de outros rios deve ser uma preocupação desde já dos governantes municipais, estaduais ou nacional. Milhões podem ser gastos, contudo, com o planejamento sustentável correto, esse dinheiro deixa de ser um custo e se torna um investimento.
Referências
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