As Primeiras Vilas do Cariri


 

Uma Vila no Brasil - Frans Post (1612-1680)

Dentro do arcabouço desenvolvimentista na América portuguesa, as vilas são os povoados, que são maiores que as aldeias (algumas conhecidas também pelo nome de Missões) e menores que as estruturas urbanas que são as cidades. Para uma melhor capitalização da economia pastoril, os portugueses fundaram vilas em locais estratégicos onde os sesmeiros e a Igreja se estabeleceram pela primeira vez.

A primeira vila no território do Ceará Grande, foi a de Aquirás, instalada em 25 de janeiro de 1700.  Aquirás foi a sede do governo do Ceará de 1713 a 1725 e tinha como padroeiro São José do Ribamar. Entre os anos de 1700 a 1822, foram criadas em território cearense 18 vilas:

Tabela elaborada de acordo com os dados de JUCÁ NETO (Os primórdios da organização do espaço territorial e da vila cearense – algumas notas, 2012, p. 142)

Em se falando em Cariri temos duas Missões capuchinhas, a de Missão Velha e a Missão do Miranda, que consolidaria traços civilizatórios para instalação das futuras vilas.

A Missão do Miranda foi elevada à vila pelo governador da capitania de Pernambuco, Diogo Lôbo em 6 de agosto de 1763 e mantida pelo sucessor o Conde Copeiro Mor. O objetivo da elevação à vila estava em conformidade com as diretrizes do Marquês de Pombal, que tinha como meta livrar as localidades da América Portuguesa dos topônimos indígenas. Dito isso, a monarquia lusitana chefiada por D. Miguel já se referia a Missão do Miranda como Ucrate ou Ocrato. Por conseguinte, a aldeia de Frei Carlos Maria de Ferrara passou a ser chamada de Real Vila do Crato / Vila Real do Crato (7ª vila do Ceará), nome escolhido em homenagem a cidade portuguesa do Distrito de Portalegre localizada em Alentejo.

Em carta datada de 10 de dezembro do mesmo ano, o Capitão Francisco Gomes de Melo e o índio José Amorim foram nomeados juízes ordinários. Arnaud de Holanda Correia (Arnao De Olanda Correa), cujo sucessor foi o caudilho José Pereira Filgueiras, foi nomeado para o cargo de capitão-mor. Criou-se um corpo de cavalaria sob o comando do Coronel Antônio Lopes de Andrade.

Em 17 de junho de 1763 a Secretaria dos Domínios Ultramarinos de Portugal, mediante aviso, autorizou Luiz Diogo Lobo da Silva, capitão general e governador de Pernambuco, a cometer a Vitorino Soares Barbosa, ouvidor e corregedor geral da comarca do Ceara Grande, que abrangia a Capitania tôda, a missão de fundar novas vilas, de acôrdo com os alvarás de 6 a 7 de junho de 1755 e de 8 de maio de 1758 e Carta Régia de 14 de setembro déste último ano. [...] Em 21 de junho, com as mesmas cerimônias de estilo, inaugurou Vitorino a vila do Crato, que sucedeu à Aldeia do Brejo, antiga Missão do Miranda. (FIGUEIREDO FILHO, 1964, p. 32)

 

Logo o governo de Pernambuco providenciou materiais essenciais para a nova vila: “[...] enxadas, foices, machados para o trabalho de picadas e demarcações, de «varas, tinteiros, pano de mesa da câmara, balanças, pêsos e medidas para padrões” (FIGUEIREDO FILHO, 1964, p. 33).

O novo governante de Pernambuco, o conde de Vila Flor, recomendou que fossem entregues terras para os colonos brancos e permissão para explorar a mão de obra nativa com a prerrogativa de civilizá-los.

Em 30 de agosto de 1814, foi criado pelo Alvará Régio assinado por D. João VI, a Vila de Santo Antônio da Barra de Jardim desmembrado assim do Crato.

Deve-se a sua elevação à categoria de vila, à forte rivalidade entre José Pereira Filgueiras, futuro capitão-mor do Crato, e o sargento-mor José Alexandre Corrêa Arnaud, descendente do povoador de Missão Velha, o qual, saindo da cadeia do lcó, em 1812, conseguiu do Regente Imperial, pessoalmente, a criação do município e sua nomeação para o cargo de capitão-mor da nova vila. (Enciclopédia dos Municípios Brasileiros , 1959, p. 324)

Outra vila que surgiu no século XIX, foi a de Barbalha (povoado do Salamanca) pela Lei n. 374, de 17 de agosto de 1846 fora desmembrada também do Crato.

    Com tanta abundância de elementos positivos, bom índice demográfico, fundação da paróquia, muitos proprietários de fazenda no vale dadivoso, crescendo sempre a vila, esta se torna sede do território que se desmembra do de Crato, precisamente no dia 17 de agosto de 1846, por resolução n.° 362, sancionada pelo presidente da Província, o então Inácio Correia de Vasconcelos. (CALLOU, 1977, p. 84)

Embora Missão Velha tenha se tornado freguesia dos Cariris Novos em 28 de janeiro de 1748, se transformará em vila apenas no século seguinte. Em 8 de novembro de 1864, Missão Velha foi elevada à categoria de vila pela Lei n° 1.120 e em 13 de julho de 1865 foi realizada a primeira sessão da câmara missão-velhense, presidida pelo professor e cronista Bernadinho Gomes de Araújo (PINHEIRO, 2010).

Esse processo civilizatório de criação de aldeias e vilas levou a dizimação de vários nativos, assim como transformou o espaço geográfico severamente com o passar dos anos.

 

Referências

CALLOU, A. M. Conotações Históricas de Barbalha. Itaytera, Crato, n. 21, p. 79-91, 1977.

ENCICLOPÉDIA dos Municípios Brasileiros. Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -IBGE, v. XVI, 1959.

FIGUEIREDO FILHO, J. D. História do Cariri. Crato: Faculdade de Filosofia do Crato, v. I, 1964.

JUCÁ NETO, C. R. Os primórdios da organização do espaço territorial e da vila cearense – algumas notas. Anais do Museu Paulista, São Paulo, v. 20, n. 1, p. p. 133-163, jan.- jun 2012.

PINHEIRO, I. Efemérides do Cariri. Fortaleza: UFC, 2010.

 

Trabalhando com a Fonte

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