Padre Ibiapina: entre missões e assistência social


“do ponto de vista do catolicismo ou cristianismo social, a maior figura da Igreja do Brasil” Gilberto Freire sobre Padre Ibiapina (Apud ARAUJO, 1980, p.149).

 

Nessa figura representa padre Ibiapina celebrando uma missa.

    Em 5 de agosto de 1806, na fazenda Olho d’Agua do Riacho da Jaibaras em Sobral, na Capitania do Siará, nasce José Antônio de Maria Ibiapina que mais tarde seria conhecido como Padre Ibiapina. Filho de Francisco Miguel Pereira Ibiapina e de Teresa Maria de Jesus, Ibiapina era neto pelo lado paterno do capitão de uma das Companhias de Cavalaria Miliciana da Ribeira do Acaraú e por parte materna era neto do Procurador da Câmara de Sobral, Antonio Pereira de Azevedo (ARAÚJO, 1980).

Seu pai, nascido em Sobral a 8 de maio de 1782, era autodidata letrado, homem irrequieto e idealista, tabelião e escrivão das correições, profissão esta que dele exigia viagens contínuas e penosas, tendo que acompanhar o Ouvidor e Corregedor Geral da Comarca por todo o interior da Província. Em companhia do Ouvidor Francisco Afonso Ferreira esteve na povoação de São Pedro da Ibiapina, primeira localidade a visitar no exercício de seu cargo, tendo por isto, como foi costume dos revolucionários da Confederação do Equador, acrescentado ao seu nome o apelido "Ibiapina”, homenagem àquela cidade da Serra da Ibiapaba. Demorou-se ainda em Icó, Crato e Jardim, retornando a Fortaleza em 1823 quando abraçou os ideais da Revolução, sendo arcabuzado a 7 de maio de 1825, no Passeio Público (ARAÚJO, 1980, p. 150).

    A educação formal de José Antônio iniciou em 1819 quando sua família se mudou para a vila de Icó, onde passou a frequentar escola particular do professor José Felipe e na cidade de Crato completou sua formação primária.

    No ano de 1823 vai estudar no Seminário Nossa Senhora da Graça ou Seminário de Olinda, todavia com a morte de sua mãe em 4 de novembro do mesmo ano, somadas com outras baixas familiares como o “bárbaro assassinato de seu irmão mais velho Raimundo Alexandre no degredo da Ilha de Fernando de Noronha (meado de 1824) e do fuzilamento de seu pai (7 de março de 1825)” (ARAÚJO, 1980, p. 150), fez com que Ibiapina não continuasse com a formação para poder cuidar dos irmãos menores.

    Todavia, essa formação proporcionará a ele se tornar o primeiro deputado eleito, chefe de polícia e Juiz de Direito da comarca de Santo Antônio de Quixeramobim. Entretanto abandonou a carreira de deputado em 1834 e seguiu carreira como advogado até 1850.

    Aos 46 anos, mais precisamente em 3 de julho de 1853, José Antônio torna-se padre. Além do Ceará, os estados de Pernambuco, Rio Grande do Norte, Piauí e Paraíba fizeram parte do percurso missionário e desenvolvimentista do Padre Ibiapina. O padre Ibiapina fazia parte do chamado "Clero Nacionalista". Aos 47 anos de idade assumiu a vocação do apostolado, que somado com sua experiência de vida nos sertões objetivou melhorar a vida dos sertanejos.

    Padre Ibiapina em seus percursos pelos sertões cearenses seguia o costume dos jesuítas de edificar cruzeiros nas povoações que germinavam, como um marco religioso que precedia a instalação de igrejas e por conseguinte faria surgir uma vila ou cidade. Ele adaptou a linguagem litúrgica da Santa Sé Romana para particularidades de assimilação dos sertanejos.

    As missões exerceram um papel importante no desenvolvimento das cidades interioranas que extrapolaram o viés religioso. O assistencialismo por parte da igreja católica era a única forma de ter o mínimo de dignidade, o governo imperial não tinha preocupações, como por exemplo com a saúde pública.

    Por meio da doutrina católica, Padre Ibiapina tentou enfrentar os problemas que afligiam os moradores dos sertões, como a seca, a violência, a falta de instrução entre outros fatores que o governo imperial negligenciava por não fazerem parte dos principais centros da nação.

    Em suas peregrinações pelos lugares mais sofridos dos sertões nordestino, a ação missionária do Padre Ibiapina levou mais do que a palavra das sagradas escrituras, oportunizando trabalho e educação aos sertanejos.

Conta-se que Padre Ibiapina era infatigável e totalmente dedicado à evangelização. Mal terminava uma missão começava outra, de tal modo que muitas Casas de Caridade, açudes, hospitais, cemitérios, obras que foram construídos em suas andanças pelo Nordeste através de esmolas e doações, conseguia dar sentido à vida das pessoas. Com simplicidade e uma oratória que impressionava a todos da região em que ele visitava (PRADO, 2016, p. 30).

    Sua mais significativa ação foi a criação das "casas de caridade" que tinha o objetivo inicial de serem hospitais para os flagelados que sofriam com a cólera, mas depois se tornara como um local de assistência geral para os mais necessitados com serviço de enfermarias, educandários, orfanato e roda de expostos (PRADO, 2016). As casas de caridades, segundo Augusto (1988) foram pioneiras na educação e formação para administração doméstica, onde “o trabalho assistencial do Pe. Ibiapina visava primordialmente à formação integral da mulher: aprendizado da leitura, catequese, formação social, trabalhos domésticos, enfim, o aperfeiçoamento da família como célula máter da sociedade” (AUGUSTO, 1988, p. 135).

    O missionário considerado também um administrador público, ajudou em realizações de melhorias nos arraiais, vilas e cidades a qual contribui nos desenvolvimentos destas, por meio das construções das casas de caridade, cacimbas, açudes, capelas, cemitérios, hospitais entre outros benefícios promovidos pelo Padre Ibiapina. “Usava na execução destas obras, o regime de mutirão em que trabalham todos por um e um por todos” (AUGUSTO, 1988, p. 135).

    Em poucos dias as construções de Ibiapina eram concluídas ou até alguns meses, pois "ele trabalhava com a multidão em festa de fé e glória pelas realizações" (MARIZ, 1942, p. 65). Por exemplo, fez em Barbalha, uma Casa de Caridade em apenas um mês. Contudo, dezoito dias, foi o tempo para construir uma capela com colaboração de doze mil pessoas em Goianinha.

    Em 1868, o missionário cria em Crato o jornal " A Voz da Religião do Cariri" que era um meio de divulgar as missões que realizara, além disso,

o periódico ainda trazia em suas páginas preocupações com o civismo, a denúncia aos desmandos políticos, das ideias imorais, a decadência das crenças religiosas e da moralidade dos religiosos, a falta de segurança, a segurança da honra, da vida e da propriedade; um instrumento em favor da doutrina do Evangelho e da terra pátria, além de evidenciar fragmentos do cotidiano daquelas populações sertanejas. Além disso, noticiava as missões chefiadas pelo missionário em diversas localidades cearenses: Milagres, Crato, Jardim, São Pedro, Barbalha, Goianinha, Porteiras, Brejo; todas as regiões situadas ao sul da capitania foram acompanhadas pelas páginas do jornal religioso, apresentando as localidades no antes e depois das missões; descrevendo suas melhorias materiais e espirituais após os trabalhos missionários (SILVA JÚNIOR, 2016, p. 46).

    Um episódio curioso foi narrado nas páginas desse jornal, sobre uma história miraculosa de uma senhora que teria se curado de uma enfermidade graças a recomendação do padre Ibiapina, veja a publicação:

 

Figura 1- A fonte Miraculosa. A Voz da Religião no Cariri- 13 dezembro de 1868, p. 03.

    Segundo Sobreira (1938) essa história foi apenas um mal entendido, entre  as palavras “águas cálidas” proferidas pelo padre Ibiapina e o entendimento da devota que ficou como “águas do caldas”:

Corria em meio o ano de 1868, quando chegou à cidade da Barbalha o missionário evangélico Pe. Dr. José Antônio de Maria Ibiapina. (...). Alguns dias depois, apresentou-se ao virtuoso levita uma pobre velha, que sofria de incurável moléstia exterior, havia longos anos, e era de todos muito conhecida. Chegou-se ao padre, disse, cheia de confiança: - Meu padre, eu sou uma pobre velha doente e nada possuo... Venho pedir um remédio para me curar. (...). O padre tomando parte em sua dor, lhe respondeu: - Que posso eu fazer? Sou tão pobre quanto vós, minha filha. Não sou médico; nada tenho nada; só curo almas. (...). O bom padre, como que para ver-se livre de tamanha impertinência, disse-lhe. - Tomai banhos cálidos. Tanto bastou. A boa velha tomou ao pé da letra, como se costuma dizer. A sua ignorância fê-la compreender que o nosso missionário lhe tinha mandado tomar banho no Caldas. (SOBREIRA, 1938: 277)

    Engano ou não uma coisa foi certa, esse fato da Fonte Miraculosa fez originar o povoado do Caldas e várias peregrinações para conhecer as santas águas do caldas.

Casa onde morreu padre Ibiapina
Casa onde morreu padre Ibiapina

    Em 19 de fevereiro de 1883, na Casa de Saúde Bananeiras, morre com 77 anos o Padre Ibiapina no município de Santa Fé, na Paraíba. Todavia, influenciou alguns personagens importantes para história nacional, como Padre Cícero e o Beato Antônio Conselheiro (SILVA JÚNIOR, 2016).

 

Criado com o Padlet

Referências

ARAÚJO, F. S. D. Padre Ibiapina, Gênio Missionário do Nordeste. Itaytera, Crato, n. 24, p. 149-154, 1980.

AUGUSTO, R. Ainda vive a Ação Social do Padre Ibiapina. ITAYTERA, Crato, n. 32, p. 135-136, 1988.

MARIZ, C. Ibiapina: um apostolo do nordéste. João Pessoa: A União, 1942.

PRADO, J. E. D. P. O aspecto histórico da ação missionária do Padre Ibiapina no nordeste brasileiro. REVISTA HISTORIAR, v. 08, n. 15, p. 22-38, 2016.

SILVA JÚNIOR, A. S. E. As missões religiosas de padre ibiapina como movimentos reformadores das cidades sertanejas. REVISTA HISTORIAR, v. 08, n. 15, p. 39-54, 2016.

SOBREIRA, J. G. D. Fundação de Caldas. Revista do Instituto do Ceará, Fortaleza, p. 227-230, 1938.

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